quinta-feira, 16 de junho de 2016

Inocência


Pegue minha mão, ela não precisa estar tão fria.
Pegue meus braços, eles não precisam se mexer.
Tire meus óculos, eu não preciso enxergá-lo melhor.
Pegue meus cabelos, eles não precisam balançar mais.
Pegue meus olhos, eles não precisam mais te ver.
Pegue minha boca, ela não precisa mais sorrir.
Tire minhas roupas, eu não preciso mais me cobrir.
Tire meus sapatos, eu não preciso mais caminhar.
Tire meu coração, ele não precisa mais bater.
Pegue minha alma, eu não preciso ir para o céu.
Pegue minha vida e viva-a como se fosse sua.
Mas você não fará isso.
Eu não tenho e nunca tive importância alguma para você.
Você me destruiu, pegou tudo o que eu tinha para oferecer e não deixou nada em troca.
Agora, eu já não existo mais.
Eu era só mais um grão de areia na extensão da praia.
Mas tirar a minha vida não te faz ser a rocha que me originou.
No final de tudo, você é só mais um grão de areia que soprou outro para longe de você.
Mas agora, esse grão de areia que você soprou deu origem à outra praia.
E nesta praia, meu amor, você nunca irá pisar.
Sabe por quê?
Porque grãos de areia não se movem quando não têm o sopro de outros grãos de areia para os levar adiante.


Júlia Mello

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