sábado, 25 de junho de 2016

Tatuagem


   Olhe para mim
   Diga o que vê
   Junte-se a mim
   E você vai ver

   Olhe em meus olhos
   Prove minha boca
   Notou algo de diferente?
   Não, não é a minha roupa

   Chegue mais perto
   Olhe mais afundo
   Ainda não consegue ver?
   Vem que eu te ajudo

   Dê-me a sua mão
   E toque em meu coração
   Consegue sentir?
   Eu gravei seu nome aqui

   Você não acredita
   Porque dizem que é tudo bobagem
   Que pena, meu amor
   Eu fiz uma tatuagem

   Tatuei seu nome em minh'alma
   E é permanente
   Você não pode apagar
   Nem mesmo tente

   Amo-te descaradamente
   Nem tento disfarçar
   Entre em minha mente
   E você verá

  Que o único verbo
  Que eu sei conjugar
  É o verbo
  Amar

Júlia Mello


quinta-feira, 23 de junho de 2016

Pássaro livre


Acho que estou livre de você. Finalmente.

Tantas noites sem dormir, tantos dias sem comer, tantos meses sem te ver, mas agora eu acho que finalmente consegui.

Libertei- o da minha mente onde você esteve aprisionado por tanto tempo. Derramei aquela última lágrima apenas para deixar o mais lindo dos sorrisos secá-la como o sol seca as poças de água após uma longa chuva. Chuva essa que embalou todo o nosso amor.

Éramos tão felizes durante aqueles beijos roubados debaixo da garoa de fim de tarde. Você segurando minha cintura, eu abraçando seu pescoço. Éramos só nós três: eu, você e a chuva. E nada mais. Nada de mundo, nada de provas, compromissos, dever de casa ou qualquer outra coisa para encher a cabeça. Apenas nós e mais nada.

Mas como a chuva, um dia tudo isso acabou. Eu estava lá te esperando, mas você nunca chegou. Foi então que eu descobri que tudo não passou de mais uma ilusão. Fui pega novamente pelos meus próprios pensamentos e enganada cruelmente pela minha própria cabeça. Foi quando a ficha finalmente caiu e eu pude enxergar com clareza: não era eu te beijando na chuva, era ela. Eu estava me enganando o tempo todo.

Nossa história de amor, tudo que eu um dia sonhei, que eu achei que era real, era mentira. E a culpa era minha, só minha. Você não sabia meu nome. Nós nunca nos falamos. Não era eu que você abraçava quando estava contente. Não era eu que você beijava na chuva.

Foi difícil te esquecer, mas eu consegui. Travei uma batalha com a minha mente travessa, menina versus menina, e consegui apagar cada memória feliz que eu criei de você. Agora você é uma ficha em branco no meu cérebro que eu nunca preenchi.

No fundo, isso foi como limpar a memória do celular. Estou apenas criando espaço para novas fotos, novas memórias e, melhor ainda, para histórias reais.

Júlia Mello
quinta-feira, 16 de junho de 2016

Inocência


Pegue minha mão, ela não precisa estar tão fria.
Pegue meus braços, eles não precisam se mexer.
Tire meus óculos, eu não preciso enxergá-lo melhor.
Pegue meus cabelos, eles não precisam balançar mais.
Pegue meus olhos, eles não precisam mais te ver.
Pegue minha boca, ela não precisa mais sorrir.
Tire minhas roupas, eu não preciso mais me cobrir.
Tire meus sapatos, eu não preciso mais caminhar.
Tire meu coração, ele não precisa mais bater.
Pegue minha alma, eu não preciso ir para o céu.
Pegue minha vida e viva-a como se fosse sua.
Mas você não fará isso.
Eu não tenho e nunca tive importância alguma para você.
Você me destruiu, pegou tudo o que eu tinha para oferecer e não deixou nada em troca.
Agora, eu já não existo mais.
Eu era só mais um grão de areia na extensão da praia.
Mas tirar a minha vida não te faz ser a rocha que me originou.
No final de tudo, você é só mais um grão de areia que soprou outro para longe de você.
Mas agora, esse grão de areia que você soprou deu origem à outra praia.
E nesta praia, meu amor, você nunca irá pisar.
Sabe por quê?
Porque grãos de areia não se movem quando não têm o sopro de outros grãos de areia para os levar adiante.


Júlia Mello

terça-feira, 14 de junho de 2016

Rosal


   Hoje é dia de festa. A cidade das rosas faz jus ao seu nome. O cheiro das flores paira no ar, como um rastro de perfume da moça bonita que passa por mim todos os dias, apressada para chegar na hora em seu trabalho.
  
  Fecho os olhos e aprecio o jardim a minha volta. Passo os dedos por cada flor, cada galho, sem medo de me machucar. Se o amor é tão bonito quanto essas rosas, por que é tão grande o medo de se apaixonar? Pequenos cortes não são nada perto da grandeza do meu amor.
  
  Há algo de diferente no ar. Não sinto mais só o cheiro das rosas, sinto o seu perfume chegar antes de você, tocando cada pedaço da minha jaqueta de couro. Segundos depois, são seus próprios dedos a fazer isso em meus braços.
  
  Você beija minha testa e espanta qualquer vestígio de preocupação em minha mente. Você toca meu rosto e limpa todo o sal das lágrimas que chorei antes de te conhecer. Você beija meus lábios e o vento perfumado me atinge em uma lufada só. Estou aliviada, finalmente posso respirar.

  Você pega minha mão e olha no fundo dos meus olhos. “Vamos passear neste labirinto de rosas” eu digo. “E se nos perdemos no caminho?” você pergunta preocupado. Abro o mais largo dos sorrisos e respondo: “o perfume das rosas nos trará de volta para o lugar de onde saímos. ”


Júlia Mello

De coração para garota



    Ei menina, precisamos conversar. Prometo que não contarei a ninguém. Você precisa viver, garota. Pare de se esconder atrás das sombras, as pessoas gostam mais de você quando você fala, porque assim elas veem quem você realmente é. Pare de se importar com o que os outros dizem, isso só te dá espinhas. Fale mais sem pensar, você não precisa de filtro. Pensar demais é o seu defeito.

   Mas agora vem o conselho mais importante, garota. De coração para menina: pare de se apaixonar por quem você não pode alcançar. Isso só te faz infeliz e me deixa profundamente triste. No fundo, você sabe que a culpa não é minha. Eu não tenho olhos castanhos como os seus, não posso ver o rosto daqueles que passam por você. Sou apenas músculos e sangue. E todo mundo sabe que músculos não são tudo, não é mesmo?

  Você precisa sentir mais, menina. Se você gosta tanto desses meninos de que tanto fala, então por que não me faz pular toda vez que os vê? Há tempos eu não pulo como antigamente, não tenho vontade de sair de dentro do seu peito para festejar, não esqueço de uma batida porque fiquei acompanhando o desenrolar de sua trama romântica como quem acompanha a uma novela.

   E as borboletas? Ah, as borboletas, que falta eu sinto delas. Às vezes, elas saíam de seu estômago e vinham me visitar. Tão coloridas, tão cheias de vida. Agora tudo que vejo são nós em sua garganta, cada vez mais emaranhados, dos choros que você engole por não querer se mostrar fraca.

  Garota, não é fraqueza chorar. Fraqueza é não viver. Fraqueza é se apaixonar e deixar a pessoa amada ir embora porque você não fez nada para mudar isso. Você não se declarou, você não disse que a amava, nem segurou sua mão com medo do que os outros iam pensar. Garota, ninguém adivinha paixão, demonstra-se.

  Agora se você fizer tudo isso e ainda assim a pessoa amada for embora, aí garota, a resposta é que não era para ser. Não era a pessoa certa, não era o garoto perfeito, não era o seu príncipe encantado, não era o escolhido. Mas veja pelo lado bom, pelo menos você tentou, não é mesmo? Agora é menos um para riscar da sua lista.

  Menos um para correr atrás. Menos uma das suas mil e uma preocupações. Menos um dos seus intermináveis sonhos. Agora você sabe o que procurar e sabe que não é nele que vai encontrar. Viu como eu sei te fazer sentir melhor?

  Garota, a culpa não é minha. Eu te amo como a sua mãe te amou no momento em que te viu sair toda cheia de sangue e placenta da barriga dela e mesmo assim te achou linda. Eu te amo como seu pai te amou quando você pediu para segurar a mão dele porque estava com medo do escuro. Eu te amo como ele irá te amar quando você finalmente encontrar o que sempre esteve procurando.

  Eu te amo garota, porque afinal, desde que você deu seu primeiro respiro eu dei minha primeira batida. Somos assim. Eu preciso de você e você precisa de mim. Eu não vivo sem você, você não vive sem mim.

Atenciosamente,

Seu coração de menina, garota e mulher


Júlia Mello

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